Coluna Lean Agro

Coluna Lean Agro

Setembro de 2017
Por: Livia Kosaka
Sócia-Diretora Honsha do Brasil & VP DATAGRO Lean
Título: Por que Gestão Lean no Agronegócio?

Nos dez anos em que morei nos Estados Unidos trabalhei por seis anos na Toyota Motor Norte América e dois anos na Hart Energy na divisão de Energia, Meio Ambiente e Biocombustíveis, onde tive oportunidade de conhecer de forma aprofundada a situação do agronegócio mundial. Principalmente referente às culturas utilizadas para a produção de biocombustíveis, tais como: cana de açúcar, milho, beterraba e trigo para o etanol; e óleos vegetais: soja, algodão, girassol, canola, mamona e dendê para o biodiesel. E além de analisar o mercado de biocombustíveis para reportar à Alta Gestão da Toyota e filiais da América Latina, fui treinada dentro do Toyota Way/Lean Thinking, onde aprendi os pilares do Toyota Way: Respeito às Pessoas e Melhorias Contínuas.

Assim, desde que retornei ao Brasil em 2010 tenho forte convicção do potencial da Gestão Lean para ajudar o setor agro brasileiro, que sofre por má ou falta de gestão. Apesar da agricultura brasileira ser considerada de ponta e ainda ser um dos únicos setores a crescer neste momento no país, é incrível como há desperdícios no setor. O meu pai, Gilberto Kosaka, que é ex-Diretor da Toyota e Sensei Lean treinado na matriz da Toyota no Japão, sempre comenta que o grande desafio do Brasil, como celeiro do mundo, é “fazer mais com menos”.

Pude observar que um dos maiores problemas das usinas de açúcar e etanol que quebraram (mais de 80 desde 2008), foi principalmente a má gestão do negócio. A conjuntura política e econômica contribuiu, a falta de uma política energética no Brasil também, o controle dos preços da gasolina, os baixos preços e novos players no mercado mundial de açúcar, advento da mecanização, enfim, são vários os fatores que contribuíram para que o setor não crescesse como esperado –  o que levou à redução dos investimentos, do crédito, e ao eventual fechamento de usinas. Porém há várias empresas que sobreviveram, e algumas até cresceram. A gestão foi o grande diferencial!

Em conversas com o meu pai, que tem como grande desafio profissional e pessoal disseminar a Gestão Lean mundo afora, verifiquei se ele teria interesse em fazer um trabalho pioneiro dentro de uma usina de açúcar e etanol. A princípio, ele comentou: “Tudo o que está em processo é passível de aplicação do lean, e na usina temos muitos processos agrícolas e industriais; consequentemente, um potencial muito grande para reduzir custos através da eliminação de desperdícios. Por que não? ”

Isto foi no final de 2010. Porém, ao ingressar na DATAGRO fiquei envolvida em vários projetos que me desviaram do foco lean. Mas a ideia de aplicar a Gestão Lean no Agro nunca me deixou. Até que, em 2014, passei a ser gestora da área de Custos de Produção da DATAGRO. Foi neste período que percebi in loco nas usinas como há desperdícios nos processos, desde a falta de um bom planejamento, má alocação dos recursos como insumos e mão de obra, passando pela má utilização das máquinas (alto índice de manutenção corretiva vs. preventiva), falta de procedimentos e processos robustos, alta rotatividade da mão de obra… causados, em grande parte, pela ausência de uma cultura corporativa no qual o líder é o exemplo a ser seguido.

E a partir do momento que você passa a monitorar os custos, o próximo passo é melhorar a gestão para reduzi-los; e na minha visão, não há melhor estratégia de negócio do que o lean. De uma forma estruturada e citando as ferramentas lean, tentarei responder à pergunta inicial – por que Gestão Lean no Agronegócio?

1. Planejamento A3 PDCA e Hoshin Kanri

Todo projeto começa com um bom planejamento: como alocar os melhores recursos num determinado espaço de tempo, com metas bem definidas, buscando resultados, monitorando-os e reavaliando o que deu errado caso estes não sejam alcançados. Algo que também aprendi é a importância do desdobramento das metas nas diversas áreas para que a empresa como um todo esteja alinhada. Sempre ouço do meu pai: “resultado é consequência de uma boa gestão, e com metas claras e um plano de ação bem definido, não tem o que dar errado”.

2. Otimização de Processos 

Buscar a melhor forma de fazer uma atividade por meio do mapeamento de todas as tarefas e da avaliação do que agrega valor do ponto de vista do cliente. O que agrega tem que ser feito em fluxo contínuo, sem interromper o fluxo de valor. A atividade que não agrega é considerada desperdício e tem que ser minimizada ou eliminada. A partir desta avaliação é possível definir processos mais robustos e passíveis de serem melhorados continuamente.

3. Trabalho Padronizado 

“Onde não existe padrão, não pode haver melhoria”, dizia Taiichi Ohno, o pai do Sistema Toyota de Produção, há mais de 50 anos. O pré-requisito para melhorar uma atividade é estabelecer um padrão de trabalho como chamamos na Toyota – ou procedimento operacional padrão – e melhorá-lo continuamente.

4. Melhoria Contínua/Kaizen

Um dos pilares do Toyota Way busca a melhoria contínua das atividades, na busca pela perfeição. Em japonês, a palavra se traduz como kai = mudança e zen = melhor – ou seja: mudar para melhor. A Gestão Lean nos provoca a sair da zona de conforto e buscar a melhoria contínua em todos os aspectos do negócio, o que leva à inovação e evolução. “Mudar é difícil, mas não mudar é fatal”, como aprendi com os meus colegas americanos.

5. Respeito às Pessoas 

Mais uma vez citando Taiichi Ohno, a Toyota tinha uma grande preocupação em investir no seu ativo mais precioso: as pessoas. Afinal, este traria retorno por quase 40 anos, considerando que no Japão se pratica o lifetime employment até hoje. Sempre que vamos iniciar um projeto de consultoria, meu pai me diz: “primeiro temos que fazer kaizen nas pessoas, e a partir daí, iremos otimizar os processos, melhorar a qualidade da matéria prima e cuidar melhor das máquinas”. Na ordem de prioridade da Gestão Lean e utilizando o Diagrama de Ishikawa dos 4Ms, o M de mão de obra vem em primeiro lugar! “Antes de desenvolver produtos, temos que desenvolver pessoas.”

6. Trabalho em Equipe 

Nos meus anos de Toyota, um dos aspectos que mais me marcou foi a força do trabalho em equipe, que é capaz de grandes realizações sob a liderança de um líder lean – que ensina como fazer. Pude observar como é possível, com instruções e metas bem definidas pelo gestor e com uma equipe comprometida e unida – obter grandes ganhos de produtividade em pouco tempo – paralelamente ao aumento da qualidade e da obtenção do tão sonhado retorno financeiro.

7. Liderança 

Diferentemente dos modelos de liderança convencional, a Gestão Lean dá ênfase no “siga-me”, no qual o líder demonstra o que fazer, dando o exemplo.

8. Inovação  

A Toyota mesmo se reinventou pois era uma questão de sobrevivência – chegou a estar à beira da falência no período pós-guerra. A necessidade traz a inovação e o momento que nos encontramos no setor agro é bastante propício para isso.

9. Resultado como Consequência

“O resultado nada mais é do que consequência de uma boa gestão”. Estamos num momento de grandes dificuldades no País e no setor, porém na minha opinião poderíamos fazer mais com a devida “tarefa de casa”. Todas as discussões nos diversos níveis são importantes, mas a crise vem para todos. A empresa que estiver melhor preparada, com uma equipe capacitada e boa gestão, não só irá sobreviver como sairá fortalecida, e há muitos exemplos de empresas no setor que seguem crescendo, mesmo enfrentando crise após crise.

10. Gestão Lean como Estratégia de Negócio

Pelos motivos citados acima, vejo a Gestão Lean como a melhor estratégia de negócio existente e, se bem aplicada, pode trazer grandes resultados ao setor agro. Uma gestão que coloca as pessoas em primeiro lugar, as capacita e utiliza sua inteligência para melhorar – e acima de tudo as respeita, é o futuro – pois quanto maior a capacitação, mais a mão de obra estará preparada para enfrentar os desafios que a inovação e tecnologia irão oferecer.

Após avaliar algumas ferramentas ligadas aos pilares e como poderiam trazer ganhos ao setor – reforço a pergunta do meu pai: por que não?

Nas próximas colunas, irei desenvolver mais cada princípio da Gestão Lean, assim como a aplicação das ferramentas lean nos projetos pilotos que implementamos nas usinas de açúcar e etanol.

Até a próxima!

2 thoughts on “Coluna Lean Agro

  1. Cyro Responder

    Excelente! Deu uma aula de Gestão Lean e exemplificou com propriedade os motivos para adotá-la no Agronegócio. Parabéns e estou ansioso para a próxima…

  2. LEANDRO BANDEIRA Responder

    Fantástica analise sobre uma nova visão de negócio(AGRO), acredito fielmente que a filosofia Lean eleva os resultados dos negócios de modo duradouro e sempre acompanhada de uma grande profissional, que é seu caso!!!

    As primeiras ações necessárias para o sucesso são: muito trabalho, coragem, determinação e persistência.

    Parabéns!!!!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *